quinta-feira, 12 de abril de 2012

1º Capitulo - O recomeço (Parte III)



Aquela situação era deveras estranha. O meu coração diminuía de tamanho á medida que o olhar dele se fixava no meu. Ele olhou para os lados para ver se havia mais algum lugar livre sem ser o que estava ao lado nele. Nem sei se a expressão dele era de descontentamento ou de outra coisa qualquer. Quando se apercebeu que eu não poderia ir para mais lado nenhum, encostou-se ao rapaz de cabelo escuro que estava ao lado dele deixando mais espaço para mim.

- Já podemos começar a ver o filme?! – o rapaz de cabelo louro tinha falado. Tinha mesmo de decorar os nomes dos rapazes – eu quero comer as pipocas! – todos os presentes na sala riram-se da afirmação do rapaz. Não percebi porquê mas pronto.

- Mia, se não te importas podias carregar no play. Já que és a única que se encontra de pé! – olhei para o Louis que apontava para o aparelho. Fui até lá e carreguei no botão. Passei por uma almofada e agarrei-a. Precisava dela para abafar os meus gritos de medo quando passassem aquelas cenas mais horripilantes. Aproveitei e desliguei as luzes também.

Encaminhei-me para junto do lugar que me estava destinado. Estava um pouco escuro por isso não conseguia ver, em condições, a cara do Harry. Sentei-me no sofá, um pouco a medo. Ainda não estava em mim. Como é que depois de três anos, venho novamente para Londres e a minha melhor amiga acaba amiga do único rapaz de quem gostara. Queria tanto, mas tanto, não ter de voltar ao sofrimento dos primeiros dias em que ficara em São Francisco. E também dos primeiros meses.

Aconcheguei-me para o meu lado direito para haver o maior espaço entre mim e o Harry. Porém, após algum esforço meu de aumentar a distância entre nós, o espaço era demasiado pequeno para não nos tocarmos. Era definitivamente demasiado estranho e ao mesmo tempo reconfortante. Tentei concentrar-me nas falas do filme mas a minha mente, os pensamentos, as recordações estavam invariavelmente concentradas no rapaz ao lado.

Após algumas tentativas consegui, finalmente, concentrar-me no filme que estava a ser exibido na enorme televisão. As cenas do filme iam ficando cada vez mais assustadoras, principalmente quando apareciam partes que metiam sangue e criaturas horrorosas. Sabia que tudo se tratava de pura imaginação mas mesmo assim, não conseguia evitar de ficar assustada e um pouco enjoada com tamanho terror.

Tinha a certeza que iria sonhar com aquelas imagens naquela noite. Assim do nada, o filme deixou de emitir qualquer tipo de som. Já sabia que vinha alguma coisa horripilante e que me faria gritar, para variar. Coloquei a almofada em frente á minha cara para abafar qualquer tipo de som que pudesse vir da minha boca. Quando mais depressa colocava a almofada á minha frente, mais depressa me assustava.

Soltei um pequeno grito que foi abafado pela almofada e virei-me instintivamente para o meu lado esquerdo agarrando o braço da pessoa que estava ao meu lado. Juro que naquele momento nem pensei que fosse o Harry. A cena tinha-me mesmo assustado. Agarrava o braço com alguma força mas quando me apercebi, realmente, quem é que estava a agarrar, apressei-me de imediato a larga-lo.

Mas para surpresa minha, a mão direita dele foi parar ao meu ombro direito fazendo alguma pressão. Encostei-me a ele. Já não sabia se o descontrolo total do meu coração tinha sido provocado pelo susto que apanhara ou se era por ter a minha cabeça encostada ao ombro do Harry. A nossa proximidade era tanta que o perfume dele era inalado pelo meu nariz. Conhecia aquele perfume, tinha-o oferecido. Corei. Os batimentos cardíacos foram-se tornando cada vez mais irregulares e desfragmentados juntamente com a minha respiração. Quando mais tentava respirar mais o ar me faltava nos pulmões.

- Estou aqui…não tenhas medo! – ouvi a voz dele bem perto do meu ouvido, sussurrando-me

Foi desta que todo o meu corpo parou. A mão dele começou a fazer movimentos de cima para a baixo tentando-me tranquilizar. Ele fazia-o apenas com a ponta dos dedos, como eu tanto gostava. As memórias dos bons momentos que tinha passado com ele vieram marcar o presente, aquelas que queria que continuassem enterradas no passado. Se o filme pouco interesse tinha, a partir daquele momento deixou de ter qualquer tipo de atenção da minha parte. Um arrepio enorme percorreu todo o meu corpo de uma ponta a outra. Não era um arrepio de frio, era outra coisa, muito mais forte, muito mais profunda.

- Estás com frio? – a voz dele voltou a estar muito próxima do meu ouvido, sendo eu a única a puder ouvir. Não consegui levantar a cabeça para lhe responder, não conseguia olhar para ele sem me descontrolar.

- Não… - respondi praticamente em surdina.

Fechei os olhos e bem lá no fundo, queria aproveitar aquele momento ao máximo, mesmo sabendo que, provavelmente, ele só estaria a ser simpático comigo por estar assustada. Ele era esmo assim. Não queria alimentar falsas esperanças nem pensar numa relação que já estava morta, por muito que me custasse admitir. Surpreendentemente a outra mão dele livre viajou até a minha, acariciando-a. Novamente aquele calor apaziguador percorreu o meu corpo de cima a baixo. Já não sabia o que pensar. Tinha-me esquecido como as mãos dele eram grandes em relação às minhas. Ele brincava com o polegar afagando a palma da minha mão. Sem dar muito por isso, os meus dedos entrelaçaram nos dele. Foi uma sensação tão reconfortante e cheia de sentimento que nem sei explicar.      

(…)

As luzes acenderam-se e foi aí que me apercebi que o filme tinha acabado. Ele rapidamente retirou a mão dele da minha e voltamos á posição original.

- Bem, acho que está na altura de ir embora… - disse ao mesmo tempo que me levantava para ir ter com a Nicole

- Acho que não estás com muita sorte! – o rapaz de cabelo escuro que estava ao lado dela tinha falado. Olhei para ele e rapidamente percebi o que ele queria dizer. A Nicole dormia serenamente em cima do ombro do rapaz que tinha falado. Suspirei, um pouco desconfortável com a situação.

- Parece-me que esta noite vais ficar por cá… - disse Louis a sorrir. O meu olhar desviou momentaneamente para o Harry que se encontrava ainda sentado no sofá. Ele nada disse e levantou-se em direção ao quarto dele. Depois de pedir desculpas por causa da Nicole, o Louis indicou o quarto aonde iria a ficar a dormir enquanto o rapaz de cabelo escuro trazia a Nicole ao colo.

***

Não conseguia dormir. Podia jurar que ainda estava a sentir a mão dele entrelaçada na minha. Era uma sensação tão reconfortante como de desanimadora. Levantei-me da cama devagarinho para não acordar a Nicole que dormia que nem uma pedra. Tentei andar em pezinhos de lã para não a acordar até chegar á porta. Assim que fechei a porta atrás de mim voltei ao meu andar normal. Acendi a luz do corredor e até me assustei. A luz era bastante forte e iluminava bastante bem. Apaguei-a de imediato, não queria que ninguém soubesse que andava de pé.

Desci vagarosamente pelas escadas até chegar ao andar de baixo. Fui até á cozinha num passo lento, peguei num copo e enchi-o com água. Encostei-me ao balcão e bebi água toda existente no pequeno recipiente. Observei tudo o que estava á minha volta e empanquei numa foto enorme que havia de todos os rapazes, incluindo o Harry. O meu olhar acabou por não se desviar do rapaz dos caracóis. Ele parecia estar felicíssimo, melhor, estava mesmo feliz. Em baixo estava algo escrito, “One Direction”. Mas o que é isto?!    

Acabei por me ir sentar no sofá esperando que o sono viesse ter comigo para poder ir para a cama. Mas ele deve ter tirado folga pois, passado algum tempo, continuava tão desperta como tinha chegado. O barulho de passos no andar de cima fez-me despertar e ficar expectante para saber quem era. O rapaz que tinha o poder sobre o meu coração apareceu apenas em bóxeres no início das escadas.

Para onde quer que fosse ele acabava sempre por aparecer á minha frente. Ele desceu as escadas com alguma pressa sem nunca me prestar qualquer tipo de atenção, ao contrário de mim. Por vezes parecia que estávamos tão próximos um do outro que conseguia escutar o coração dele a bater ao mesmo ritmo que o meu, mas por outro, como naquele momento, parecia que havia um foço de quilómetros de distância a separar-nos.

O Harry foi para a cozinha e eu continuei estática sentada no sofá. Não tinha forças para ir ter com ele, para lhe poder explicar o porquê de ter voltado para Londres e talvez, o quanto ainda era importante para mim. Ele fez algum barulho na cozinha mas não consegui perceber o que estava a fazer. Passado alguns largos minutos, ele saiu da cozinha e trazia duas canecas grandes na mão. Ele encaminhou-se até mim e deu-me a caneca para a mão.

- Estive a fazer chocolate quente para mim e… - ele hesitou antes de prosseguir - …bem…decidi também fazer para ti. Espero que esteja como tanto gostas…

Não sabia muito bem o que dizer nem como reagir. Estava demasiado “abananada” com o gesto dele. Apenas sorri timidamente ao qual ele correspondeu da mesma forma. Foi um momento surpreendentemente estranho. Coloquei as mãos a rodear a caneca recebendo o calor proveniente do seu interior. Elevei o objeto que estava nas minhas mãos á boca e saboreei o chocolate quente. Estava mesmo como gosto, perfeito.

- Está muito bom…obrigada! – acabei por dizer no final. Ele não disse nada, apenas sorriu. Levantou-se do sofá e foi em direção ás escadas que dão acesso ao piso de cima – Harry! – nem sei como tive coragem para falar. Ele voltou-se para trás, aquele olhar fez-me provocar mil e uma dúvidas e incertezas – eu…eu… - não consegui articular nenhuma palavra para formar uma frase digna desse nome. Baixei o olhar para o chão. – Esquece…

Ele continuou o seu caminho e eu voltei a sentar-me no sofá. Não entendia o que estava a sentir. Parecia que estava deserta de forças. Sentia-me novamente imponente, ridícula, pequenina ao lado dele. Queria chorar mas nem forças para isso tinha.


------

Espero que esteja do vosso agrado.
Mil e um obrigado pelos comentários. Não era mesmo nada do que estava á espera! Estou mesmo muito contente...são sem dúvida um grande incentivo!

Obrigada,

Dri

8 comentários:

Deixa a tua marca xD